editorial
Las vereditas de las pulsiones
Kátia Sento Sé Mello*
Una veredita alegre con luz de luna o de sol
Tendida como una cinta con sus lados de arreból
Arreból de los geranios y sonrisas con rubor
Arreból de los claveles y las mejillas en flor
Perfumada de magnolia rociada de mañanita
La veredita sonrie cuando tu piel acaricia
Y la populi se ríe y la ventana se agita
Cuándo por esa vereda tu fina estampa pasea
(Caetano Veloso – extrato de Fina Estampa)
O número 24 de Stylete Lacaniano nos brinda com oito trabalhos de psicanalistas de diferentes Fóruns do Brasil. Neles há uma diversidade de temas que não se resumem a um único ponto de convergência, a não ser o fato de expressarem isso que a revista se propõe: ser um recorte, um lugar de traços e (e)stylos de cada um. São belas as apresentações aqui expostas que, como os versos de Caetano, nos conduzem a veredas alegres e iluminadas seja com a luz do sol seja com a luz da lua. Ainda que iluminadas, essas veredas nos equivocam, nos escondem e projetam magnólias, cravos e mejillas como que de surpresa. E são por essas veredas que passeiam os autores aqui reunidos com suas mais finas estampas.
Em Especulações psicanalíticas sobre o choro a partir da obra de Dorival Caymmi, Eduardo Pascottini garimpa belos significantes nas letras do compositor baiano para nos chamar a atenção de que “há em toda fala um choro escamoteado como ato em resposta à entrada do sujeito na linguagem”.
Elena Pérez Alonso resgata a personagem Ofélia da bela obra de Shakespeare e reflete sobre a maneira de morrer das heroínas na Grécia antiga. Ela chama a atenção que, sejam elas “femininas ou viris”, há um modo de morrer que as mantém plenamente mulheres. É o que nos sorri em O suicídio de Ofélia e o desejo de morte.
Stylete Lacaniano também apresenta a música. Em Um pouco de música e psicanálise, Glauco Machado apresenta reflexões a partir da experiência do Coletivo Música e Psicanálise. Proximidade e distância parecem fronteiras tênues de cujas veredas brotam histórias e habilidades de onde flui, insistentemente, a pulsão. De brinde, o autor oferece sua estreia acompanhando a canção Cajuína.
Letícia Godim, em O amor nas psicoses ou sobre o que é o amor nos adverte que, apesar de se apresentar de muitas formas diferentes, o amor exige pacto “ora se assumindo no interior ora no exterior da linguagem.
Nada mais jocoso e engraçado, mas às vezes constrangedor, do que os chistes. É sobre eles que Margarida Eugenia Marques realiza uma leitura de Freud e Lacan em Os chistes, palavra que lateja. Só com olhar enviesado, meio de lado, se esclarece o inconsciente. Sandra Belchiolina nos presenteia com um belo poema, Terceira margem das águas e uma bela imagem em vereda de mar.
Sheila Skitnevsky Finger, a partir de estudo em cartel vem a luz com os caminhos da lógica e topologia lacanianas falando sobre os seus efeitos na clínica. Wildicleia Oliveira Lopes em O feminino nas entrelinhas: o não-todo no corpo e no texto traz no arrebol, inspirada em Elizabeth da Rocha Miranda, as mulheres e as artes para tratar do quanto vivemos nas margens e profundezas, “no entre, ou, nas entrelinhas”.
Na galeria de arte, ah, esta galeria... apresenta os belos trabalhos fotográficos da artista Elvina Lessa, essa mineira de coração carioca. Ali, onde o céu se dobra - título também de sua exposição no Fórum do Campo Lacaniano do Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2023 - nos conduz a veredas da contraditória e impactante, mas maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. Com seus encantos, a cidade fornece cantos reconhecidos por todos e sensivelmente capturados pelas lentes de Elvina Mergulhem e emocionem-se!!!
* Psicanalista, membro do Fórum Rio de Janeiro
styelete lacaniano. ano 8, número 24.