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Uma criação poética

Georgina Cerquise*

Para Lacan “a estrutura metafórica indica que é na substituição do significante pelo significante que se produz um efeito de significação, que é da poesia ou de criação, ou em outras palavras, do advento da significação em questão”. É na relação de substituição que reside o recurso criador, a força criadora”. Como recriar uma lembrança infantil, da juventude? Materializar nas palavras a memória do que já se foi? “O sentido, a palavra carrega efeitos, emociona, é rica em significações psicológicas. Acerta em cheio, no momento e nos prende por um talento que beira a criação poética. Mas há uma espécie de avesso que, por sua vez, não é forçosamente percebido de imediato: em virtude de combinações   que poderíamos estender indefinidamente, a palavra formiga com tudo o que pulula de necessidades em torno de um objeto”.

Casa de Helena                                                                           

Era uma casa de janelas azuis! 

Portas com caminho fácil,

Até o mar, verde profundo

Da ilha....

Era uma casa com janelas

Azuis abertas 

Para o sol nascente,

Com roseiras miúdas,

Violetas e goiabeiras,

Era uma casa branca e azul,

Na sala mulheres

Com bordados, crochê, tricot,

Livros e histórias,

Fiavam, desfiavam o passado,

Antepassado,

 

No quintal a churrasqueira

Homens na bebedeira,

Era uma casa verdadeira que,

Acolhia a criançada,

Era a casa da Tia Helena,

Madrinha Helena,

Quando chegavam as mulheres,

As meninas, as tias e primas,

O verão anunciava,

O encontro feliz, das férias começavam,

Era uma casa de janelas azuis,

Abertas para o sol nascente,

Com portas abertas,

Caminho fácil para o mar,

Verde profundo...

Mar de Canasvieiras,

Lembranças da casa azul,

Da tia Helena,

 Madrinha Helena

*Psicanalista membro do FCL Rio de Janeiro

1 Lacan, Jacques. “A instância da Letra ou a razão desde de Freud no inconsciente” In: Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.1998.p.519.

2 Lacan, Jacques. “ Fátuo Milionário”. In: O Seminário. Livro 5 As formações do Inconsciente. [1957-58] Rio de Janeiro. Jorge Zahar.1999.p.48

stylete lacaniano, ano 9, número 27,

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